Utentes descontentes com a rede de transportes Unir da AMPorto exigem melhorias
Mais de meia centena de pessoas juntou-se hoje em frente à câmara de Vila Nova de Gaia para exigir melhorias na Unir, a nova rede de transportes da Área Metropolitana do Porto (AMP) que tem gerado muitas críticas.
“Exigimos mais respeito pelos utentes.
A Unir é incompetência, injustiça, vergonha e desrespeito pelos cidadãos”, lia-se nos cartazes empunhados pelos manifestantes que dirigiram palavras de ordem ao presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, que é também presidente da AMP.
Aurora Gomes, 79 anos, contou à Lusa que utiliza a Unir, rede que entrou em vigor a 01 de dezembro, para se deslocar ao centro do concelho, ao cemitério, ao supermercado e a consultas médicas, mas “agora não pode confiar nos horários de autocarros que estão a cair aos bocados”.
“Não há hora certa.
As camionetas aparecem de duas em duas horas.
É muito difícil.
Estou mal da coluna e não consigo fazer a minha vida assim.
Será que tenho de ficar fechada em casa?
Descontei 44 anos. Isto é inadmissível”, lamentou.
Ao lado, José Silva, 72 anos, antigo torneiro mecânico conta que teve de suspender a fisioterapia porque “não pode confiar nos transportes” e “de tanto esperar ao frio”, ficou doente.
“Estive das 17:15 às 19:30 uma vez à espera de autocarro e nada.
Preciso de usar a linha que vem de Espinho para o Porto, mas é impossível.
Mais vale cancelar tudo, a fisioterapia, tudo, e ficar em casa a morrer”, disse, lamentando também que atualmente os cuidados de higiene tenham terminado.
“Isso até é mais culpa dos utilizadores do que dele [referindo-se a Eduardo Vítor Rodrigues].
Antes era tudo cheio de medo e de máscara.
Agora toda a gente se atropela.
Mas também os autocarros estão a cair aos bocados e são poucos”, desabafou.
Residente em Canelas, Ana Marques, 53 anos, tem experiência idêntica com a rede Unir.
À Lusa, a funcionária pública que usa a rede para chegar até Santo Ovídio, onde apanha o metro para o Porto, contou que ela e outros utentes já preferiram fazer um percurso a pé de cinco quilómetros até à Rechousa para aí apanhar um autocarro e chegar ao centro de Gaia.
“Uso transportes há 22 anos. Tinha os autocarros da UTC [União de Transportes dos Carvalhos].
Eram poucos, mas cumpriam horários. Eram velhos, mas apareciam.
Agora não. Eu tinha uma camioneta às 08:00 que ideal para a maioria. Agora puseram duas, uma às 07:00 e outra às 09:30, mas ninguém quer estes horários. Andam vazias e isso se aparecerem”, referiu.
Marcada através do Facebook e após ter sido criado o grupo “A vergonha da Unir”, esta manifestação juntou maioritariamente utentes da parte mais interior de Gaia, nomeadamente de Pedroso, Olival, Crestuma, Avintes, Canelas e Serzedo, entre outras, conforme descreveu à Lusa Daniel Ferreira, um dos criadores do grupo.
“A rede nova foi feita em cima do joelho e anda tudo a tapar buracos.
Reunimos um conjunto de pessoas que estão descontentes e cansadas.
É malta que não usa os transportes por lazer, mas sim para ir para a escola e ir trabalhar. Em Portugal ainda se vê os transportes públicos como coisa de e para pobre e depois fazem estas coisas: uma rede péssima”, criticou Daniel Ferreira.
Garantindo que “ninguém vai desistir de lutar por uma rede melhor e por mais respeito”, Daniel Ferreira adiantou que o está já a planear uma nova manifestação em janeiro em frente à Câmara do Porto.
“Unir = Vergonha” ou “Unir = Desunir” eram algumas das frases que se liam nas faixas.
Já ao microfone várias pessoas foram dando o seu testemunho, terminando quase sempre com críticas ao presidente da AMP.
A agência Lusa procurou obter uma reação junto de Eduardo Vítor Rodrigues que não quis comentar.
A Unir começou a operar a 01 de dezembro em todo o território da região, após anos de litigância nos tribunais com os anteriores operadores.
Em 05 de dezembro, a nova rede adiantava, numa nota publicada no seu 'site', que estava a "reformular e adequar" os horários dos lotes Norte Nascente, Sul Nascente e Sul Poente.
Dois dias depois, o presidente da AMP admitiu à Lusa que o arranque "em pleno" da Unir possa acontecer apenas no início do próximo ano.
A nova rede de 439 linhas e nova imagem substitui os serviços efetuados pelos cerca de 30 operadores privados rodoviários na AMP, como por exemplo a Caima, Feirense, Transdev, UT Carvalhos, Gondomarense, Pacense, Arriva, Maré, Landim, Valpi, Litoral Norte, Souto, MGC, Seluve, Espírito Santo, entre outros.
Fonte : Lusa/Fim
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