Projetistas do Estádio de Espinho dizem que “não faz sentido” câmara falar em 13 ME
Os projetistas do Estádio de Espinho, que o atual executivo camarário quer auditado devido a indícios de irregularidades, defenderam hoje que “não faz sentido” a câmara dizer que a obra adjudicada por 4,5 milhões de euros poderá custar 13.
Em causa está a posição pública dessa autarquia do distrito de Aveiro, agora liderada pela socialista Maria Manuel Cruz, quanto à viabilidade técnica e financeira da empreitada iniciada em 2020, no mandato do social-democrata Joaquim Pinto Moreira.
“Estão nomeados [pela câmara atual] vários fatores conjunturais e estimativas de custos que surpreenderam a equipa projetista”, começa por referir o comunicado assinado pelo engenheiro Joaquim Ferreira, da Pórtico - Gabinete de Engenharia Lda., e pelo arquiteto Diogo Lacerda, da RDLM Arquitetos Associados Lda.
Os dois profissionais afirmam depois:
“Não faz sentido o apontamento [da câmara] de que a obra pode custar 13 milhões de euros.
Não é um valor realista nem está enquadrado com o projeto a concurso, razão que nos obrigou a esclarecer todos os espinhenses, que, tal com nós, desejam ver concretizada uma obra que tem um longo historial de fracassos e insucessos e que agora merece definitivamente um empurrão final, sem comprometer o orçamento camarário”.
Os dois profissionais realçam, contudo, que ainda não foram ouvidos no processo de reavaliação da empreitada.
“Desde a tomada de posse da nova equipa de gestão da câmara municipal, nunca fomos chamados para quaisquer esclarecimentos ou dúvidas sobre o nosso projeto.
Nas reuniões de obra semanais, constatámos sempre um clima de incerteza, com muitas dúvidas sobre o futuro do Estádio Municipal, e, decorrente disso, solicitámos uma reunião com a Câmara, não tendo obtido resposta”, afirmam.
Argumentando que a equipa autora do projeto é aquela “que possui conhecimentos relevantes” sobre o mesmo, Joaquim Ferreira e Diogo Lacerda garantem que esse “cumpre todas as normas e regulamentos aplicáveis à prática desportiva do futebol” e que a empreitada “tem condições para ser executada, terminada e sujeita às vistorias do Instituto Português do Desporto e da Juventude”.
Sobre dois aspetos concretos que o novo executivo socialista disse em conferência de imprensa, a 24 de março, que segundo a autarquia “indiciam práticas lesivas do erário público”, engenheiro e arquiteto esclarecem: por um lado, “o abastecimento de água está incluído na empreitada”, já que, “de acordo com o estabelecido (na altura da adjudicação) com a câmara municipal, as extensões de (cerca de 200 metros) de águas pluviais e esgotos seriam promovidas numa empreitada à parte, através dos serviços próprios”; por outro, na obra “estão incluídas todas as infraestruturas para o funcionamento da iluminação, faltando os postes e os projetores, que estão orçamentados em 360.000 euros”.
Sobre o mesmo assunto, Joaquim Ferreira e Diogo Lacerda acrescentam ainda que esse “não é trabalho obrigatório e pode ser realizado em qualquer altura, ficando o estádio condicionado às provas desportivas diurnas”.
Quanto à acusação de que a empreitada ainda vai precisar de terrenos privados, os autores do comunicado afirmam:
“A bilheteira norte está implantada em terrenos camarários, ocupando uma parte de terreno privado no seu trajeto até ao recinto.
São cerca de 20 a 30 metros quadrados de terreno a expropriar, mas, se necessário, a equipa projetista desvia o acesso e assim evita qualquer tipo de expropriação”.
Joaquim Ferreira e Diogo Lacerda realçam que em causa está “um pequeno estádio, com 5.000 lugares e adaptado às necessidades da cidade”, pelo que, além da adjudicação de 4,5 milhões, a obra só precisa de trabalhos complementares na ordem dos 500.000 euros e de “lançar as empreitadas para completar os arranjos exteriores e as extensões das condutas de águas pluviais e saneamento”.
“Esta é a realidade do projeto e daquilo que é necessário fazer para viabilizar e colocar em uso o Estádio Municipal”, concluem, manifestando a “inteira disponibilidade da equipa projetista para prestar todos os esclarecimentos e colaborar de forma global nos vários aspetos julgados necessários para o bom andamento da obra”.
A auditoria que a Câmara de Espinho encomendou à empreitada do Estádio Municipal surgiu na sequência de uma investigação a autarcas e empresários por suspeitas de corrupção em negócios imobiliários.
Disso resultou a detenção e renúncia do socialista Miguel Reis à presidência da autarquia e a consequente tomada de posse de Maria Manuel Cruz, que, ao entrar em funções, avançou para a auditoria ao equipamento desportivo adjudicado em 2020 pelo social-democrata Joaquim Pinto Moreira, então presidente da câmara e agora também arguido no processo.
Fonte : Lusa/Fim
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