segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Obras da Linha Rosa do Metro do Porto - Geologia dificulta trabalhos, mas prazo mantém-se para 2024




Geologia dificulta trabalhos, mas prazo mantém-se para 2024



Obras da Linha Rosa continuam a “furar” o Porto



Antes de entrar no túnel o ritual é sempre o mesmo. Primeiro o equipamento de segurança, depois o registo de entrada. 

Num placar improvisado com alguns pregos deixam-se os cartões de identificação para que, em caso de acidente, se possa perceber quem estava no interior. 

Por último, um gesto que, apesar de por vezes discreto, nunca fica esquecido. 

No fundo de cada poço, à entrada do túnel, está Santa Bárbara, padroeira dos mineiros, que os trabalhadores fazem questão de louvar sempre que passam por ali.

Nas obras da nova Linha Rosa as máquinas e os homens param agora apenas um dia e meio por semana. 
De segunda-feira a sábado à hora de almoço e durante as 24 horas do dia escavam-se os túneis que vão ligar a Casa da Música a São Bento.

 O maior, entre o Hospital de Santo António e a Praça da Liberdade tem 583 metros de comprimento.

Para Pedro Lé Costa, diretor da obra da Linha Rosa, que acompanhou o Porto Canal numa visita exclusiva aos estaleiros e túneis da empreitada, “as principais dificuldades estão relacionadas com a geologia”, uma vez que, no Porto, “ao contrário do que as pessoas pensam, não há só granito”. 

O engenheiro explica que “com o passar do tempo o granito vai se deteriorando e transforma-se” fazendo com que exista, por exemplo, um metro desta pedra “e logo a seguir um solo com muita água que quase que se escava à mão”.


Trânsito na Avenida de França vai ser retomado em breve


Apesar disso, o responsável pela obra garante que estão a ser feitos progressos significativos e que, na zona da Casa da Música há novidades para breve.

 “Temos prevista a devolução do trânsito na Avenida de França para finais de outubro ou inícios de novembro”, avança Pedro Lé Costa.

“Tivemos alguns contratempos que provocaram um ligeiro atraso, mas já estão ultrapassados”, explica.

Segundo o engenheiro, “na estação Boavista/Casa da Música a reposição da área exterior vai permitir continuar a escavação pelo interior”. 

O projeto prevê a ligação para a futura Linha Rubi e a construção de um parque de estacionamento, de forma a poder injetar veículos na rede de forma mais rápida.


Explosões assustam moradores da Praça da Galiza

Ao contrário do que acontece na Casa da Música, mais à frente, no estaleiro de obra da Praça da Galiza, “primeiro faz-se a escavação completa do corpo da estação e depois começa-se a erguer a estrutura de baixo para cima”.

Nesta zona, a perfuração do solo está a exigir, muitas vezes, a utilização de explosivos. Um método que está a assustar os moradores dos prédios circundantes, que explicam que o abalo sentido se assemelha ao de um terramoto.

 A Metro do Porto garante que “possui uma Licença Especial de Ruído que autoriza a realização de trabalhos em qualquer horário”.


Geologia da baixa do Porto atrasa escavações


A escavação em direção à Estação de São Bento passa ainda pelo Hospital de Santo António, onde a obra acontece por baixo do Jardim do Carregal. 

Neste caso, para reduzir o impacto naquela zona da cidade, “foi decidido fazer como se a obra fosse uma estação mineira, ou seja, toda escavada por baixo da terra”, explica Pedro Lé Costa.

Mais à frente, a perfuração do solo segue já junto à Torre dos Clérigos, mas onde os trabalhadores se depararam com grandes dificuldades.

“Os rendimentos reduziram de 12 a 15 metros por semana para quatro a cinco”, isto porque, a geologia da baixa da cidade está a exigir “muitos tratamentos e drenagens”. 

Segundo o engenheiro responsável, a diminuição do ritmo de trabalho prende-se com a necessidade de proteger “o monumento mais emblemático da cidade, que está a menos de 50 metros de distância”.

“Acho que ninguém nos vai perdoar se acontecer alguma coisa à Torre dos Clérigos”, diz, em tom de brincadeira, Pedro Lé Costa.

Segundo a Metro do Porto, as fortes chuvas que fustigaram a cidade no dia 7 de janeiro não provocaram muitos danos na obra. “Acho que teve mais danos a operação da empresa do que as obras. 

O que a chuva veio trazer foi um atraso daqueles poucos dias em que não se pôde trabalhar”.

Já quanto à responsabilidade das obras nas inundações que destruíram negócios e casas, o estudo encomendado pela metro ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) concluiu que a empreitada agravou o impacto das chuvas em, pelo menos, 44%.

A solução para que não volte e acontecer é, segundo Pedro Lé Costa, a obra do Rio de Vila, cuja base de cálculo prevê capacidade para períodos de retorno de 100 anos.

“Temos de colocar o projeto em operação o mais rápido possível para dar resposta a situações climáticas extremas”, afirma o engenheiro.


Custos aumentaram, mas ritmo também acelerou


O projeto da Linha Rosa é financiado pelo POSEUR e pelo Fundo Ambiental, num investimento de 246 milhões de euros. Os custos subiram cerca de 30%, face ao inicialmente previsto, devido à guerra na Ucrânia (que é um dos grandes produtores mundiais de aço) e da inflação.

Em maio, a Metro do Porto formalizou uma aceleração da empreitada, cujos atrasos tinham sido criticados pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

O novo plano traduzia-se “num aumento do número médio mensal de equipamentos em obra de cerca de 15% e incremento do número médio mensal de homens de cerca de 5%”, avançava a empresa através de um comunicado.


Fonte :  Porto Canal 

Fotografias : Henrique Ferreira













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