FAPAS contra obras “antes das eleições e sem zelo” na Barrinha de Esmoriz
A FAPAS - Associação Portuguesa para Conservação da Biodiversidade criticou hoje as dragagens anunciadas para a Barrinha de Esmoriz e Lagoa de Paramos, em Ovar e Espinho, por surgirem "antes das eleições", "sem zelo" e confundindo "poluição com sedimentos".
A instituição ambientalista reage assim ao anúncio da sociedade Polis Litoral Ria de Aveiro, que esta segunda-feira aprovou um novo concurso público para conclusão da dragagem e despoluição da massa lagunar localizada nos dois referidos concelhos do distrito.
"Em 2019, a mesma empresa pública instalou na Barrinha de Esmoriz uma série de passadiços com fins lúdicos. Sem qualquer consideração pelos valores naturais, esses passadiços vieram devassar um ecossistema já de si fragilizado, quando podiam ter sido feitos e cumprir missão semelhante, mas com mais orientação técnica e sem causarem prejuízos para a avifauna", afirma a FAPAS.
Agora que a Polis anuncia novo concurso para dragagens na lagoa de Paramos e Esmoriz , depois de em 2016 idêntico procedimento ter sofrido "inúmeros atrasos", a associação questiona o momento dessa divulgação e aponta-lhe novo erro:
"O anúncio da ‘intenção' é feito em vésperas de eleições autárquicas, mas o mais grave desde processo é confundir ‘poluição' com ‘retirada de sedimentos, de nada adiantando a dragagem se a poluição continuar".
Realçando que a zona em causa integra desde 2000 a Rede Natura, mas defendendo que isso "pouco adiantou porque continuam a ser 396 hectares ao total abandono", a FAPAS diz não perceber como é que, num espaço natural "que se pretende ‘valorizado', continuam "a proliferar plantas invasoras como as acácias ou o chorão-das-areias", ainda se vê "ser perturbada a fauna" e também se proibiu a caça para a substituir por "ruído todo o ano, inclusive na época de nidificação das aves".
"Também não se percebe que haja milhões para dragagens e passadiços e não haja 25.000 ou 30.000 euros anuais para ali ter em permanência dois vigilantes da natureza que zelem pela conservação da Barrinha", acrescenta.
A associação ambientalista reconhece que as dragagens são necessárias "devido ao facto de durante décadas a Barrinha ter servido de vazadouro dos esgotos domésticos circundantes, perante a passividade das autoridades locais e nacionais", mas argumenta que um espaço "valorizado e não zelado torna-se rapidamente vandalizado e alvo de usos inadequados, como a circulação de motos nos passadiços ou viaturas todo-o-terreno nas dunas".
Para a FAPAS, é preciso, por isso, que as novas dragagens sejam mais eficazes do que as anteriores, quando "não foram tidos em conta aspetos fundamentais para a preservação deste ecossistema único" de Ovar e Espinho.
"Os dragados foram colocados sem critério rigoroso e, entre outras coisas, soterraram uma população de orquídeas autóctones raras em Portugal e protegidas por lei, da espécie Spiranthes aestivalis, além de outras espécies de plantas", conclui.
Contactada pela Lusa, a Polis Litoral Ria de Aveiro não comentou a posição da FAPAS.
Fonte Lusa/Fim
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