Pombos invadem esplanadas e roubam comida dos pratos
Proliferação de aves é motivo de preocupação no Porto, incomodando comerciantes e clientes.
Ainda há quem continue a dar-lhes alimento, apesar de ser proibido e de dar multa.
O casal de Famalicão ainda não se tinha levantado da esplanada da confeitaria Bella Roma, na Baixa do Porto, quando foi surpreendido pelo intruso com asas.
Sem pedir licença, o pombo aterrou no tabuleiro e começou a debicar os restos de comida nos pratos.
E bastou o primeiro aventurar-se sem ser convidado, para que outros seguissem o exemplo.
No Porto, sobretudo em zonas com esplanadas, como a Baixa ou a Ribeira, a presença massiva de pombos constitui um incómodo e preocupa clientes e empresários.
“Isto é a toda a hora. Tem de estar sempre uma pessoa à porta para evitar estas situações”, confirmou Vítor Jesus, proprietário da confeitaria Bella Roma, na Rua de Sampaio Bruno, junto à Praça da Liberdade.
Apesar da regulamentação municipal proibir, continua a haver muitas pessoas a alimentar as aves e até as medidas para afastar as gaivotas das cidades podem contribuir para a proliferação dos pombos.
Que também podem constituir um perigo para a saúde, uma vez que as suas fezes têm bactérias que transmitem várias doenças.
Queixas de clientes
Servir os clientes nas esplanadas torna-se cada vez mais difícil com a presença dos pássaros que são atraídos pela comida.
“Às vezes as pessoas vão embora e, passado um minuto, olhamos para a mesa e já estão 10 ou 20 pombas lá em cima”, afirma Vítor Jesus.
O problema “é desagradável de todas as formas”, acrescenta o proprietário da confeitaria:
“Sujam tudo. Além disso, os clientes ficam com má impressão e nós temos de andar sempre a correr atrás para limpar”.
Há, inclusive, clientes que reclamam devido à presença dos pombos.
“Dizem que há falta de higiene e que devemos ter mais cuidado com as mesas.
Se a mesa fica por levantar um minuto, já lá estão as pombas outra vez a cair”, referiu Vítor.
São vários os estabelecimentos que procuram alternativas para controlar o problema, apesar de a maioria dos responsáveis relatarem que “há pouco que se pode fazer”.
Na Praça da Batalha, a churrasqueira Brasa colocou “um pássaro de plástico para tentar afugentar as pombas”.
“Tentamos enxota-las e até colocámos o pássaro de plástico para evitar que elas se aproximem”, disse Artur Bateira, gerente do estabelecimento, acrescentando que, ainda assim, o problema persiste:
“De ano para ano, parece que há cada vez mais”.
Na Rua de Santa Catarina também são vários os espaços que se queixam do problema.
Na esplanada que a gelataria Lavoratta tem no pátio traseiro, a gerência foi obrigada a colocar uma rede de proteção para que os pássaros não conseguissem entrar.
A funcionária Mari Távoa diz que a medida foi eficiente, mas nas mesas que têm na rua a situação piorou.
“Os pombos não são tão agressivos como as gaivotas.
Mas parece que agora não têm tanto medo.
Basta as pessoas levantarem-se que vêm logo”, referiu.
Proibido alimentar
A alimentação de animais errantes na via pública e nos espaços verdes é proibida e pode dar multa, de acordo com o regulamento da Câmara do Porto.
As coimas podem variar entre os 75 e os 350 euros. Ainda assim, os comerciantes dizem que é uma prática comum.
“As pessoas gostam de alimentar as pombas.
Têm esse hábito de deitar as migalhas para o chão, por exemplo.
Nós alertamos os clientes para não fazerem isso, mas infelizmente muitos não ligam e continuam a fazê-lo”, afirma Artur Bateira, acrescentando que a maioria desconhece a proibição.
Medidas
Área Metropolitana do Porto fez plano para controlar as gaivotas
As gaivotas também são um problema nas cidades.
Nas zonas costeiras da Área Metropolitana do Porto foram identificados 794 ninhos, sendo que 61% deles situavam-se no Porto, sobretudo no Centro Histórico.
Para impedir e minimizar a reprodução em espaço urbano, o Plano de Ação de Controlo da População de Gaivotas propõe “a aplicação de óleo impermeabilizante nos ovos”.
Cria-se assim uma camada que impede as trocas gasosas entre o embrião e o exterior, inviabilizando o ovo.
O método é eficaz, mas a dificuldade assenta no acesso aos telhados onde se encontram os ninhos.
Para contornar o problema, o plano prevê a utilização de drones adaptados.
A par, também são equacionadas penalizações para quem alimentar as aves.
Em telhados de fácil acesso, a remoção dos ninhos ou dos ovos é uma hipótese. Ainda assim, este processo deve ser repetido semanalmente.
O plano encomendado pela Área Metropolitana do Porto foi desenvolvido entre 2021 e 2022 e abrange, além do Porto, os municípios de Gaia, Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.
Comerciantes avisam
Os comerciantes dizem que tentam alertar as pessoas para a proibição de alimentar os pombos, mas que muitos desconhecem essa regra.
“Estou farto de dizer às pessoas para não deitarem nada, que assim eles desabituam-se e vão para outro lado”, refere Vítor Jesus.
O JN tentou, sem êxito, saber quantas multas já foram passadas pela Câmara Municipal do Porto.
Doenças
Os pombos podem transmitir várias doenças, com sintomas que podem ser graves.
Essa transmissão é feita através do contacto com as fezes, de forma direta ou indireta, uma vez que estas podem secar e transformar-se em pó, que pode ser inalado pelas pessoas.
Principal medida é não dar alimentos
Por que razão há tantos pombos na cidade?
Há muita gente a alimentá-los.
E há também quem os alimente sem querer, com os restos de comida que caem para o chão.
Se há mais pombos na cidade a culpa é do Homem, é o aumento da alimentação.
Que riscos representam para a saúde pública?
Há de facto problemas para a saúde pública, se houver um excesso de pombos. Particularmente por causa das fezes que transportam vírus e bactérias.
Não quer dizer que sejam todos os pombos, mas é inconveniente tê-los, particularmente em locais onde se come.
Estamos a falar de que tipo de aves?
Os pombos urbanos são sedentários, não procuram clima nenhum, estão na cidade.
Procuram abrigo nos monumentos e nos prédios abandonados.
O ideal seria entaipar as janelas. Isso é fácil de dizer, mas difícil de fazer.
E de obrigar a fazer.
Quais são as soluções?
Há algumas.
Já há empresas e cafés que recorrem a falcoeiros, por exemplo.
Mas é uma solução que custa dinheiro e não está ao alcance de todos.
Portanto, o fundamental é não alimentar.
Estas são algumas coisas que as câmaras podem fazer: controlar a alimentação artificial, capturar o excesso de pombos e promover o entaipamento dos prédios.
Fonte : JN
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