sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Alunos lesados da escola de condução “A Desportiva” acusam gestor de "roubo"



Alunos lesados da escola de condução “A Desportiva” acusam gestor de "roubo"



Acusações de roubo com a conivência dos funcionários da Escola de Condução “A Desportiva”, a quem foi declarada a insolvência e fechou portas no Norte, marcaram hoje em Vila Nova de Gaia o protesto de cerca de 40 lesados.



Concentrados à porta da Escola de Condução Triplo S, de que é dono Paulo Mateus, administrador de “A Desportiva”, para pedir justiça, alunos e pais das escolas do Porto e de Vila Nova de Gaia pediram justiça e exigiram falar com o responsável, que não estava no local.

O grupo Samuel Alves Pinto & Filhos, Lda., detentor da Escola de Condução ‘A Desportiva’, através de uma sentença, datada de 03 de setembro de 2020, do Tribunal Judicial da Comarca do Porto – Juízo de Comércio de Vila Nova de Gaia, foi declarado insolvente.

Em resposta enviada na quinta-feira à agência Lusa, o Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) adiantou que o encerramento da Escola de Condução “A Desportiva”, na região Norte, lesou 949 alunos, que têm agora de concluir a obtenção da carta de condução noutros estabelecimentos.

Gonçalo Guimarães, de 19 anos, aluno da escola e há um ano e meio a tentar tirar a carta, afirmou-se “revoltado” em declarações à Lusa, não apenas por lhe terem sido “roubados 575 euros”, mas também por “não existir a possibilidade de os reaver”.

Com “exame de código marcado para 15 de outubro de 2020”, não só nunca cumpriu essa avaliação como “há quatro ou cinco dias a escola anunciou na sua página no Facebook que tinha fechado portas devido a insolvência”, lamentou.

Crítico, apontou também o dedo à atuação da “gestora judicial nomeada para tomar conta do processo”, que, ao “não fechar a escola no prazo de 30 dias estabelecido, fez com que os alunos continuassem a ser roubados”, e explicou que a escola “continuou a aceitar inscrições”.

Débora Correia esteve na manifestação em representação do irmão, também lesado, que “pagou 595 euros à cabeça, dias antes da declaração da pandemia de covid-19”,

“Logo de início se viu que as coisas não estavam a correr bem pois as aulas de código nunca eram marcadas na escola de Vila Nova de Gaia”, contou à Lusa, acrescentando a “frequência, por isso estranha, com que os carros de condução, de manhã, nunca tinham combustível”.

E prosseguiu: “as coisas já não andavam bem e toda a gente encobria. Os funcionários já sabiam da situação de insolvência e a responsável continuava a aceitar inscrições. O que começou a acontecer, e é grave, foi terem aceitado transferências, não em nome da escola, mas do administrador Paulo Mateus, que é dono e mantém aberta a Triplo S”, denunciou Débora Correia.

“Queremos que seja feita justiça”, exigiu.

Dalila Costa, mãe de outro aluno, era das mais exaltadas, enfatizando terem “pagado com muito sacrifício” o que pensavam vir a ser a futura carta de condução ao filho, num investimento de 575 euros”, atraídos por “uma promoção que, afinal, não era”.

“O meu filho inscreveu-se em novembro de 2019 e correu tudo bem até março, até ao início da pandemia”, assinalou à Lusa, explicando que as “aulas foram retomadas assim que os números da covid abrandaram”.

Em setembro, continuou, o filho “pediu para que fossem marcadas as aulas de condução e foi-lhe dito que tinham uma lista muito grande de alunos e que diariamente só podiam entrar no carro duas pessoas, uma de manhã e outra à tarde, para ter aulas, e que teria de aguardar”, após o que ficaram à espera até serem “surpreendidos” quando em janeiro descobriram que a ”escola tinha sido fechada, mas com a indicação, na porta, de que estava de férias”.

“Agora a Triplo S ainda tem o descaramento de dizer que aceita os alunos da Desportiva por mais 500 euros, alegando que não tem de pedir documentação adicional ao IMT [Instituto da Mobilidade e dos Transportes]. A Triplo S que assuma gratuitamente os alunos”, exigiu.

A terminar, Dalila Costa perguntou onde andam os cerca de “seis milhões de euros recebidos pela escola dos quase mil alunos lesados”.

Pouco depois destas declarações, um grupo de lesados entrou na escola de condução, alegando que o funcionário estava a fotografar os manifestantes.

O funcionário chamou a PSP, que após identificar duas das mulheres em protesto conseguiu que desmobilizassem cerca das 18:15.

A Lusa tentou uma reação de Paulo Mateus, mas até ao momento não foi possível.

Entretanto, um grupo de alunos e funcionários da Escola de Condução “A Desportiva” pretende criar uma associação para apoiar os lesados pela “venda danosa de cursos de condução”, foi hoje anunciado.

No comunicado, os promotores da futura associação acrescentam que a mesma “trabalhará para prevenir situações de comportamento errado e ilegal de entidades análogas, nomeadamente através da informação e sensibilização, apoio jurídico e cobertura mediática”.

“Já hoje foi disponibilizado um formulário eletrónico que visa a inscrição dos futuros associados para que, nas próximas semanas, se possam cumprir todas as etapas burocráticas que deverão culminar na formalização da Associação dos Lesados da Escola de Condução “A Desportiva”, refere o comunicado.

Os alunos destas escolas de condução, que funcionavam, nomeadamente, no Porto, em Vila Nova de Gaia, em Espinho e em Santo Tirso, criaram no Facebook o grupo “Lesados da Escola de Condução [a] Desportiva”, que conta já com centenas de membros e milhares de comentários. Muitos dizem que vão apresentar queixa às autoridades por burla, enquanto outros falam em organizar ações de protesto.


FONTE  Lusa/fim








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