Quantas pessoas morreram por causa do Mundial no Catar?
O campeonato do mundo de futebol no Catar arranca no domingo, e as críticas aumentam de tom. Ativistas, políticos, adeptos e jornalistas denunciam 6.500 a 15.000 alegadas mortes relacionadas com o evento
O debate sobre custo humano do Mundial de Futebol de 2022 e o tratamento dado aos trabalhadores estrangeiros dura há mais de uma década, desde que o Catar ganhou o direito de acolher o evento.
Há várias estimativas sobre quantos trabalhadores morreram nos estaleiros de obras do campeonato no Catar, mas é difícil apurar o número real.
A DW verificou os factos analisando os números publicados pela FIFA, autoridades do Catar, grupos de direitos humanos e os meios de comunicação social, que têm sido constantemente mencionados como verdadeiros, enganadores ou mesmo falsos.
Os autores estão conscientes de que os números transmitem apenas uma vaga noção do sofrimento alegadamente sofrido pelos trabalhadores migrantes no Catar.
Afirmação: "O Mundial de Futebol no Catar custou a vida a 6.500 - até mesmo 15.000 - trabalhadores migrantes."
Embora estes números tenham sido utilizados várias vezes para sustentar esta afirmação, desde que estes relatórios foram publicados, nem a Amnistia Internacional nem o Guardian afirmaram que todas estas mortes ocorreram em locais de construção de estádios, ou mesmo no âmbito do Mundial de Futebol de 2022.
Ambos os números referem-se apenas a cidadãos de fora do Catar, de várias profissões, que morreram no país na última década.
O número de 15.021 mortes citado pela Amnistia Internacional foi obtido a partir de estatísticas oficiais das próprias autoridades do Catar e refere-se ao número de estrangeiros que morreram no país entre 2010 e 2019. Entre 2011 e 2020, foram 15.799 mortes.
15.000 mortos - mas não só por causa do Mundial de Futebol
Este dado inclui não só trabalhadores da construção civil pouco qualificados, pessoal de segurança ou jardineiros, que podem ou não ter sido empregados em projetos relacionados com o Mundial de Futebol, mas também professores, médicos, engenheiros e outros empresários estrangeiros.
Muitos vieram de países em desenvolvimento como o Nepal e o Bangladesh, enquanto outros era oriundos de nações de rendimento médio ou alto.
As estatísticas do Catar não permitem uma análise mais detalhada.
Quanto ao Guardian, o jornalista Pete Pattisson e a sua equipa basearam o número total de 6.751 mortes em estatísticas oficiais dos Governos do Bangladesh, Índia, Nepal, Paquistão e Sri Lanka, cujos cidadãos constituem uma proporção significativa de trabalhadores migrantes no Catar - em particular trabalhadores pouco qualificados.
Trabalhadores migrantes no Catar são fundamentalmente saudáveis à chegada
Por exemplo, a proporção de crianças pequenas e idosos - grupos demográficos com as maiores taxas de mortalidade - entre os trabalhadores migrantes no Catar não se pode comparar com a de uma população geral de qualquer país.
Além disso, os trabalhadores migrantes no Catar, independentemente da sua origem ou emprego, são geralmente pessoas saudáveis que têm de passar por uma série de exames médicos para obter um visto, filtrando potenciais candidatos com doenças infeciosas como o HIV/SIDA, hepatite B e C, sífilis ou tuberculose.
Tais estatísticas também não incluem os trabalhadores migrantes que falecem depois de regressarem aos seus países de origem.
No Nepal, nos últimos 10 anos, por exemplo, as autoridades registaram um aumento significativo do número de casos fatais de insuficiência renal entre homens com idades compreendidas entre os 20-50 anos, muitos dos quais tinham acabado de regressar do trabalho no Médio Oriente.
O trabalho árduo nas condições climáticas do Golfo Pérsico, combinado com a baixa quantidade e qualidade da água potável, tal como relatado pelas pessoas afetadas, poderá explicar o problema, de acordo com especialistas de saúde no Nepal.
"Houve apenas três mortes relacionadas com o trabalho em estaleiros de obras de estádios do Mundial de Futebol."
Tanto a FIFA como o comité organizador do Mundial de Futebol no Catar insistem que apenas três pessoas morreram como resultado direto do seu trabalho nas obras para o campeonato.
A definição oficial da FIFA e do Catar de "mortes relacionadas com o trabalho" refere-se a mortes nos locais de construção dos sete novos estádios, bem como a instalações de treino que o Catar construiu na última década.
Os três incluem dois homens nepaleses no Estádio Al Janoub, em Al Wakrah, e um britânico no Estádio Internacional de Khalifa, em Al Rayyan.
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