Obras na Linha do Norte preveem demolição de mirante do século XIX na Madalena em Gaia
As obras na linha do Norte na Madalena, em Vila Nova de Gaia, preveem a demolição de um mirante do século XIX, no âmbito da construção de uma passagem superior, de acordo com documentos do projeto consultados pela Lusa.
"O projeto prevê a total destruição do mirante", pode ler-se no Estudo do Património Arqueológico e Arquitetónico da passagem superior de peões junto ao apeadeiro da Madalena, em Gaia (distrito do Porto), de 2015, consultado pela Lusa.
No local, atualmente, existe uma passagem de nível pedonal, que será suprimida e substituída pela passagem superior, além de já estarem a ser realizadas obras no apeadeiro da Madalena, no âmbito da obra entre Espinho e Gaia (Devesas), ao abrigo do programa Ferrovia 2020.
A Lusa questionou a Infraestruturas de Portugal (IP) sobre as intervenções e aguarda resposta.
Em causa está um mirante "situado no muro de propriedade da Quinta do Vale, datado dos finais do século XIX", construído, à data, para ver passar os comboios e posteriormente propriedade da Misericórdia de Vila Nova de Gaia.
"Trata-se de um mirante de estilo revivalista, com aspeto de torre castelã, aqui construído posteriormente à construção da linha ferroviária (1864/65), para que dele se pudesse contemplar a passagem dos comboios", pode ler-se no estudo consultado pela Lusa.
De acordo com a prospeção feita à área da obra, as construções "espelham a paixão dos proprietários desta quinta pelo transporte ferroviário", pois que além do mirante a demolir, existe outro mais a sul, "recentemente restaurado", com uma planta quadrangular e "formando uma espécie camarote virado para a linha ferroviária, de estilo 'neo-árabe'".
Segundo o estudo, "conta-se, inclusivamente, que o proprietário da quinta, na época, António Gomes Moraes, terá pago para que a linha passasse pela sua propriedade", mas também há a hipótese dos mirantes "terem sido construídos um pouco mais tarde, depois da venda da Quinta do Vale à família Tavares Bastos".
"Consideramos que se trata de um exemplar interessante pertencente à categoria de património vernacular pitoresco, testemunho da relação da própria população com o transporte ferroviário e memória material de um momento importante na história da freguesia", referem os autores, da empresa de arqueologia Omiknos.
Quanto à estrutura a demolir, "apesar do seu caráter agregador e do seu valor do ponto de vista social, este edifício enquadra-se em cronologias bastante recentes, com um valor patrimonial reduzido", consideram os autores do estudo na secção dedicada às medidas de minimização gerais e recomendações.
O estudo recomenda, assim, que seja feito "um registo adequado do elemento, numa fase prévia ao início da obra, com vista à recolha de informação que permita uma eventual reconstrução em nova localização, tal como aliás é já sugerido em projeto".
"Devido às características construtivas deste edifício, não se apresenta exequível a sua transladação, devendo, no entanto, existir um cuidado no seu desmantelamento, de forma a preservar eventuais elementos que poderão ser utilizados numa futura reconstrução", segundo o documento.
A Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN), segundo os documentos consultados pela Lusa, deu um parecer favorável condicionado à intervenção, que visa a construção da passagem superior de peões.
No local existe também um fontanário com mais de 60 anos que, segundo o Estudo do Património Arqueológico e Arquitetónico, e apesar da ausência de registos bibliográficos, "pela sua morfologia" terá "uma data de construção que rondará os anos 40/50 do século XX".
"O mesmo acompanhamento [que o do mirante] deverá ser aplicado ao fontanário", refere o estudo, justificando que "este também será diretamente afetado pelos trabalhos de construção da passagem superior".
"A fonte deverá ser trasladada a local a designar pela Junta de Freguesia local", refere ainda o documento.
FONTE : Lusa/Fim
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