Meia centena de pessoas fazem "velório" da passagem de nível superior da Granja
Cerca de 50 pessoas marcharam hoje junto à estação de comboios da Granja, em Vila Nova de Gaia, em protesto contra a obra da Infraestruturas de Portugal (IP) na Linha do Norte.
De preto, com flores e velas na mão, e com uma faixa que dizia “Este lugar pode ser diferente.
Parem de o destruir” a iniciar a marcha, residentes, veraneantes e comerciantes da Granja marcharam desde a estação de comboios até à praia, num protesto em jeito de "velório" organizado pelo movimento Cidadãos Praia da Granja.
A principal reivindicação do grupo é impedir que a passagem de nível superior projetada pela IP para a estação de comboios continue a ser construída, um elemento que apelidam de “mamarracho” e que tem cerca de sete metros de altura.
“Continuaremos a pedir que removam o mamarracho.
Acreditamos que é possível porque temos a razão connosco.
Todas as soluções más arquitetónicas acabam por ir abaixo.
Basta ver o prédio Coutinho em Viana [do Castelo] demorou 50 anos, mas foi abaixo. Aqui esperemos conseguir mais cedo”, disse Luís Tovar, do Cidadãos Praia da Granja, à agência Lusa.
Este não é o primeiro protesto marcado pelo movimento que já endereçou cartas ao Presidente da República e apresentou queixas junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, bem como ao Ministério Público e ao Provedor da Justiça Europeu, com o argumento de mau uso de fundos comunitários.
Hoje a marcha fez-se quer a pé, quer de bicicleta, com carrinhos de bebé e trotinetes para “mostrar que a passagem de nível é uma barreira arquitetónica e de mobilidade”.
Teresa Sousa e Leandro Costa são pais de três crianças de um, quatro e sete anos.
À Lusa disseram que usam a estação para passar da chamada Granja de cima para a Granja de baixo quer por causa da praia, quer para usar a piscina.
“Isto é uma barreira.
Não sei como vamos passar porque falam nos elevadores – e sim, estão a ser construídos – mas a experiência que Espinho tem é de estarem sempre avariados”, disse Teresa Sousa.
Ao lado, Fernando Carlos, de 60 anos, chamava a atenção para a proximidade de um centro de reabilitação para pessoas com deficiência física, motora e intelectual que fica do lado superior da linha.
“Os utentes que usam esta passagem e vão de cadeiras de rodas como é que vão fazer?”, questionou, alertando para a existência de utentes invisuais e surdos.
Residente na Granja há 27 anos, Fátima Travanca também é contra esta obra porque “nunca a passagem pedonal deu problemas”, garantiu à Lusa, enquanto depositava flores e acendia uma vela em sinal de protesto ao lado de Olímpia Soares, de 67 anos, que lamentou:
“Com estas escadas todas, nunca mais vou poder passar de um lado para o outro”.
Em causa está o projeto que a IP tem vindo a implementar ao longo do troço ferroviário da Linha do Norte entre Espinho (distrito de Aveiro) e Vila Nova de Gaia, o qual inclui a colocação de separações acústicas, reformulação de apeadeiros e construção de passagens pedonais superiores para substituir as atuais.
Esta obra já motivou petições públicas, pedidos de esclarecimento e protestos como o que decorreu a 30 de abril e juntou no local cerca de uma centena de pessoas.
Na assembleia municipal de Gaia de 28 de junho, o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, disse que deverá ser fechado até 31 de julho um protocolo "de alto nível" sobre as passagens superiores da Granja e da Aguda.
Segundo o autarca, o objetivo do protocolo, a assinar "pelo senhor ministro" da tutela Pedro Nuno Santos, é "outorgar politicamente" a solução para a travessia da Linha do Norte.
Eduardo Vítor Rodrigues disse acreditar numa "boa solução", mas admitiu que "nunca será perfeita".
A 14 de abril, em resposta à agência Lusa, a IP afirmou que a construção de uma passagem inferior pedonal constitui “maior risco à segurança dos utentes”.
“A criação de uma passagem inferior pedonal não asseguraria condições de visibilidade do exterior para o interior da passagem, o que constitui um maior risco a segurança dos utentes, e, em caso de falha de fornecimento de energia ao sistema de bombagem, ficaria impedido o acesso dos passageiros à plataforma central e a evacuação dos mesmos em casos de emergência e socorro”, referiu a IP.
Sobre esta justificação, o grupo Cidadãos Praia da Granja garante ter “informações e pareceres contrários”.
O movimento fala em "solução imposta sem estudo de impacto ambiental e sem consulta pública à população".
Além da polémica relacionada com a construção de passagens superiores e de muros nas zonas de Miramar, da Granja e na Aguda, que tem sido alvo da contestação das populações locais, que já os apelidaram de “mamarracho”, “escarro arquitetónico” ou “muros de Berlim”, também está em causa a construção de uma passagem superior na Madalena, que poderá levar à demolição de um mirante do século XIX.
FONTE : Lusa/Fim
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