Movimento da Granja dirige carta aberta à tutela com criticas à obra da IP em Gaia
O movimento Cidadãos Praia da Granja, grupo cívico de Gaia que se tem manifestado contra a obra da Infraestruturas de Portugal (IP) na Linha do Norte, voltou hoje a criticar a passagem de nível instalada na estação de comboios.
Numa carta aberta dirigida a várias instituições, entre as quais ao Governo, à IP e à Câmara de Vila Nova de Gaia, o grupo fala de “aberração que engole o património e divide a comunidade”.
“No domingo, na estação da Granja, vestimos de preto, por tristeza pela descaracterização de uma zona histórica, pelo ignorar da voz dos cidadãos.
Foi um Velório (…).
Na segunda pela manhã acordámos com a terra queimada.
Foi instalada a totalidade da passagem superior, uma aberração que engole o património e divide a comunidade. Coincidências?”, escreve o movimento na carta aberta.
A carta é dirigida diretamente ao ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, ao presidente da Câmara de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, ao vice-presidente da IP, Carlos Fernandes, bem como à Junta de Freguesia de São Félix da Marinha, liderada por Carlos Pinto.
A missiva é igualmente dirigida a todos os grupos parlamentares presentes na Assembleia da República.
O grupo garante que não perdeu a esperança e continuará “a lutar por um lugar melhor”.
“Um lugar diferente deste presente sombrio.
Um lugar para todas as pessoas.
Pela cidadania. Pela liberdade”, termina a missiva que é acompanhada quer de fotos da ação de protesto de domingo, quer de fotos da passagem de nível entretanto instalada a poucos metros da histórica estação ferroviária da Granja.
Em causa está uma estação de comboios considerada histórica que se destaca pelos painéis de azulejo pintados pelos artistas Licínio Pinto e Francisco Pereira da fábrica Fonte Nova, de Aveiro.
Esta carta surge cinco dias depois do grupo cívico ter promovido no local uma marcha que juntou cerca de meia centena de pessoas que se manifestaram em silêncio, vestidas de preto e com flores e velas na mão.
O “velório”, como chamaram à ação, fez-se quer a pé, de bicicleta, com carrinhos de bebé e trotinetes para “mostrar que a passagem de nível é uma barreira arquitetónica e de mobilidade”.
No domingo, em declarações à agência Lusa, Luís Tovar, do Cidadãos Praia da Granja, garantiu que o movimento continuaria a lutar contra o “mamarracho”, referindo-se à passagem de nível superior que tem uma altura superior a sete metros.
“Acreditamos que é possível porque temos a razão connosco.
Todas as soluções más arquitetónicas acabam por ir abaixo.
Basta ver o prédio Coutinho em Viana [do Castelo], [que] demorou 50 anos mas foi abaixo. Aqui esperemos conseguir mais cedo”, disse.
“Escarro arquitetónico” ou “muros de Berlim” são outras das expressões utilizadas para descrever a obra, quer por moradores, quer por especialistas e ambientalistas.
Em causa está o projeto que a IP tem vindo a implementar ao longo do troço ferroviário da Linha do Norte entre Espinho (distrito de Aveiro) e Vila Nova de Gaia, o qual inclui a colocação de separações acústicas, reformulação de apeadeiros e construção de passagens pedonais superiores para substituir as atuais.
Na Assembleia Municipal de Gaia de 28 de junho, o presidente da Câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, disse que deverá ser fechado até 31 de julho um protocolo "de alto nível" sobre as passagens superiores da Granja e da Aguda.
Segundo o autarca, o objetivo do protocolo, a assinar "pelo senhor ministro" da tutela, Pedro Nuno Santos, é "outorgar politicamente" a solução para a travessia da Linha do Norte, acreditando numa "boa solução", mas que "nunca será perfeita".
A 14 de abril, em resposta à agência Lusa, a IP afirmou que a construção de uma passagem inferior pedonal constitui “maior risco à segurança dos utentes”.
“A criação de uma passagem inferior pedonal não asseguraria condições de visibilidade do exterior para o interior da passagem, o que constitui um maior risco a segurança dos utentes, e, em caso de falha de fornecimento de energia ao sistema de bombagem, ficaria impedido o acesso dos passageiros à plataforma central e a evacuação dos mesmos em casos de emergência e socorro”, referiu a IP.
Além da polémica relacionada com a construção de passagens superiores e de muros nas zonas de Miramar, da Granja e na Aguda, que tem sido alvo da contestação das populações locais, também está em causa a construção de uma passagem superior na Madalena, que poderá levar à demolição de um mirante do século XIX.
FONTE : Lusa/Fim
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