segunda-feira, 9 de maio de 2022

Professor universitário diz que obra da IP na Granja, em Gaia, está “mal justificada”

 




Professor universitário diz que obra da IP na Granja, em Gaia, está “mal justificada”



O arquiteto e professor universitário Correia Fernandes considerou hoje que a obra que a Infraestruturas de Portugal (IP) está a realizar na Linha do Norte em Vila Nova de Gaia “é uma agressão” e está “tecnicamente mal justificada”.



Em declarações à agência Lusa, o arquiteto contou que, a pedido de movimentos cívicos locais, deu o seu parecer “diversas vezes” sobre a obra que tem vindo a gerar contestação, sobretudo nas localidades da Aguda, Granja e Miramar, em Gaia, no distrito do Porto, a qual considera “um péssimo serviço prestado à comunidade em geral”.

“A obra é, a todos os títulos, uma agressão que, para além de tecnicamente mal justificada, é do ponto de vista cultural e democrático um péssimo serviço prestado à comunidade em geral e aos vizinhos em particular, que tão justa e exuberantemente se têm manifestado”, referiu o arquiteto.

Correia Fernandes, que foi diretor e professor na Faculdade de Arquitetura do Porto e vereador na Câmara do Porto, tendo assumido o pelouro do Urbanismo durante quase todo o primeiro mandato de Rui Moreira, criticou a IP de atuar como “dona e senhora de tudo quanto a rodeia”.

“As razões técnicas invocadas pela IP, incluindo as funcionais, são, no mínimo, inconsistentes, para não ir mais longe. Qualquer técnico as desmonta”, disse.

À Lusa, Manuel Correia Fernandes considerou que “os cidadãos têm direito a conhecer os critérios que estão na base de uma obra desta importância”.

“Ou será que se trata de simples ignorância da promotora ou de simples desprezo pelos direitos de cidadania que a todos exigem verdade e transparência nos procedimentos? Isto mesmo expus por escrito, ainda que muito sinteticamente, aos mais diretamente interessados, ou seja, aos vizinhos da enormidade que ali se projeta”, concluiu.

Em causa está o projeto que a IP tem vindo a implementar ao longo do troço ferroviário da Linha do Norte entre Espinho (distrito de Aveiro) e Vila Nova de Gaia (distrito do Porto), o qual inclui a colocação de separações acústicas, reformulação de apeadeiros e construção de passagens pedonais superiores para substituir as atuais.

Esta obra já motivou queixas junto do Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto, bem como ao Ministério Público e ao Provedor da Justiça Europeu, com o argumento de mau uso de fundos comunitários, apresentada pelos moradores, entre outros.

Somam-se petições públicas, pedidos de esclarecimento e protestos, como o organizado pelos grupos “Praia da Granja, Cidadãos” e “Amigos da Aguda” que decorreu a 30 de abril e juntou no local cerca de uma centena de pessoas.

A 14 de abril, em resposta à agência Lusa, a IP afirmou que a construção de uma passagem inferior pedonal para substituir a superior recentemente colocada na estação da Granja constitui “maior risco à segurança dos utentes”.

“A criação de uma passagem inferior pedonal não asseguraria condições de visibilidade do exterior para o interior da passagem, o que constitui um maior risco a segurança dos utentes, e, em caso de falha de fornecimento de energia ao sistema de bombagem, ficaria impedido o acesso dos passageiros à plataforma central e a evacuação dos mesmos em casos de emergência e socorro”, referiu a IP.

Na resposta, a IP admitia que se comprometeu, após a reclamação apresentada no ano passado por um grupo de cidadãos, a analisar a viabilidade de uma solução de desnivelamento inferior à linha férrea, no entanto concluiu que essa não é possível.

“[A passagem superior oferece] melhores condições de salubridade e segurança”, resumiu a empresa.

A Lusa contactou a Câmara de Gaia, que recordou que este processo inclui uma ação judicial, algo que “o município respeita”, mas “impede a continuação do debate público”.

“A ação é contra a IP, mas estando o município em questão, importa respeitar os tribunais e deixá-los fazer a devida avaliação”, respondeu a autarquia.


FONTE : Lusa/Fim


































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