domingo, 11 de junho de 2006

Moradores temem que obra da linha férrea de Espinho transforme Bairro da Marinha num gueto



Moradores temem que obra da linha férrea de Espinho transforme Bairro da Marinha num gueto



Movimento defende mais 400 metros de túnel para enterrar a linha férrea. 


Câmara rejeita solução e rebate tese de isolamento

Há um ano, os moradores do Bairro da Marinha, freguesia de Silvalde, Espinho, manifestavam o seu descontentamento pelo início das obras de enterramento da linha férrea. 


Os habitantes estavam insatisfeitos com a colocação dos taipais. 

Um ano depois, a crítica sobe de tom e vem acompanhada do receio do isolamento a que o projecto poderá condenar o aglomerado habitacional. 

Na impossibilidade de ver vingar uma proposta alternativa para o túnel, a população teme que o bairro possa vir a transformar-se num gueto. 

O Movimento Pró Enterramento da Linha Férrea na Marinha de Silvalde (Mopelim), criado na altura do protesto, não tem dúvidas. Samuel Pereira, um dos elementos do grupo, refere que a anunciada construção de um muro, com uma altura de 1,5 metros de betão mais três de protecção acrílica, vai isolar o bairro e prejudicar cerca de cinco mil habitantes.

 "Com o muro a nascente e o mar a poente, um muro a sul do clube de golfe e a fundação de arte e cultura a norte, ficaremos emparedados", refere. 

"O Bairro da Marinha ficará isolado, ficaremos "guetizados"", reforça.

Perante o cenário, o responsável antevê desde já um futuro cinzento.

 "O comércio desaparecerá daqui, os cafés, supermercados, restaurantes. 

O turismo também. Deixaremos de ter acesso ao centro da freguesia, à igreja, às escolas. 

Assistiremos a uma desvalorização dos imóveis". 

"Haverá um empobrecimento de toda a zona", garante.

Segundo Samuel Pereira, os comboios passarão na zona do Bairro da Marinha em vala, ou seja, já em descida para entrar no túnel, erguendo-se um muro de cerca de 4,5 metros de altura a separar a linha férrea da comunidade piscatória. 

Uma solução que desagrada ao elemento do Mopelim, que avança uma alternativa. 

"Mais 400 metros de túnel", defende. 

Desta forma, a linha ficaria enterrada na parte que abrange a Marinha e não prejudicaria a população. 

"Não podemos acreditar que, como disse o senhor José Mota [presidente da Câmara de Espinho], o prolongamento do túnel em 400 metros custe mais 125 milhões de euros", aponta.

Entretanto, o Mopelim já ouviu falar na construção de duas passagens inferiores, mas não se mostra convencido. 

"Queremos ver isso no papel",reclama Samuel Pereira. "

A única coisa que queremos é que a zona da Marinha não seja prejudicada em relação à zona urbana de Espinho", destaca.

Conclusão da empreitada prevista para 2007 .

O descontentamento estende-se ainda ao novo figurino da Avenida de João de Deus, paralela à linha férrea.

 "Tinha 12 metros de largura e está com quatro, como irá ficar. 

A avenida deixa de ser uma avenida e passa a ser uma ruela", critica. As perguntas surgem, por conseguinte, em catadupa. 

"Quem autorizou a câmara a "vender" a Avenida de João de Deus à Refer?".

 "A população foi ouvida?". 

"Onde estão os estudos de impacte ambiental?". 

"Onde estão os projectos alternativos?".

O vice-presidente da Câmara de Espinho, Rolando Sousa, adianta que prolongar o enterramento da via férrea em mais 400 metros "poderá ser viável do ponto de vista técnico, mas inviável do ponto de vista financeiro".

 Tudo porque, adianta, "seria necessário fazer um outro projecto", com tudo o que isso implica. 

Além disso, sustenta, o túnel teria de passar por uma linha de água, ou seja, pela ribeira de Silvalde. 

"O que poderia trazer alguns problemas de carácter ambiental", alerta.

O autarca rejeita, contudo, que o Bairro da Marinha fique isolado. 

"Existirão duas passagens inferiores, uma para carros e outra para peões", aduz. E acrescenta: 

"A linha férrea não vai poder ser atravessada em qualquer ponto, como hoje acontece, mas isso iria acontecer com o projecto de supressão das passagens de nível sem guarda".

Segundo as últimas previsões, o enterramento da via férrea em Espinho, que envolve um investimento de cerca de 60 milhões de euros, estará concluído no final de 2007. 

O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar com o presidente da Câmara de Espinho, José Mota.

FONTE : O PÚBLICO









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