sexta-feira, 8 de abril de 2022

Pescadores de Espinho querem gasolina mais barata “ou não vale a pena ir ao mar”

 

Pescadores de Espinho querem gasolina mais barata “ou não vale a pena ir ao mar”


Pescadores de Espinho concentraram-se hoje junto à praia para se manifestaram contra o preço dos combustíveis, defendendo que, ou o Governo lhes dá apoios para assegurar rendimento útil, “ou não vale a pena ir ao mar”.


A perspetiva é de Nuno Teixeira, que, enquanto dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte, foi o porta-voz dos cerca de 20 profissionais que participaram na concentração desta manhã e, na referida praia do distrito de Aveiro, assobiavam “à falta de apoios do Estado” e empunhavam bandeiras exigindo que o tratamento fiscal dado à gasolina seja “igual ao do gasóleo”.

A justificação para que seja esse o combustível utilizado pelos pescadores de Espinho é muito prática:

 “Como aqui não há porto, os barcos precisam de motores a gasolina para terem força para subir as vagas. É uma questão de segurança”.

O problema é que “os preços da gasolina aumentaram 40% desde 2021”, o combustível utilizado no setor “é comprado nas bombas ao mesmo valor a que está disponível para qualquer português” e a receita que os pescadores recebem pelo peixe mantém-se nos níveis anteriores, pelo que, feitas as contas, o rendimento que sobra aos profissionais da pesca “é cada vez menos”.

“O aumento dos preços do combustível está-nos a causar problemas e, em cada dia, as pessoas estão a avaliar se vale a pena ou não ir ao mar”, revela o sindicalista.

É o que acontece com José Ascensão: 

“O ano passado gastei muito menos, mas agora cada maré custa-me uns 100 euros em gasolina. 

Não tenho ido ao mar. 

Não compensa”.

Nuno Teixeira afirma, por esses e demais exemplos, que “o Governo tem que olhar para a pesca com outros olhos”, até atendendo “à dimensão da faixa de mar que o país tem” e cujo potencial devia ser devidamente explorado. 

Quer “apoios diretos” em vez de medidas que obrigam a candidaturas e que demoram “muitos meses” a ressarcir efetivamente os pescadores.

Maior controlo sobre as práticas comerciais vigentes no setor é outra ambição do Sindicato, considerando que o rendimento líquido dos pescadores é “muitas vezes asfixiado pelos interesses dos intermediários”, que “chegam a pagar cêntimos” por peixe que depois os supermercados vendem a “sete, oito, nove ou 10 euros”.

“O peixe disponível varia consoante o que o mar dá, mas na lota há muitos interesses em jogo – basta ver que, ao contrário dos leilões normais, o da lota é sempre [com valores] a descer – e, se antes o pescador já ficava com pouco dinheiro no bolso, agora, por causa do preço da gasolina, ainda fica com menos”, garante o dirigente sindical.

No caso dos profissionais de Espinho, nesse cenário há uma outra agravante:

 “Como esta zona não tem lota, os pescadores ainda têm que se deslocar a Matosinhos se quiserem vender o peixe, o que significa que levam com mais um custo em cima”.

Segundo uma estimativa do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte, em Portugal serão cerca de 2.000 as embarcações de pesca artesanal e costeira que usam motores com propulsão a gasolina, mas há “uma disparidade de apoios” consoante o combustível utilizado. Aos movidos a gasóleo é concedida a isenção do imposto sobre produtos petrolíferos e energéticos (ISP) logo no ato da compra, mediante “um cartão magnético atribuído através de uma candidatura única”, enquanto para os barcos a gasolina só existe um subsídio que obriga a candidaturas semestrais para “redução no preço final da gasolina consumida” e que chega mediante uma “transferência bancária que tarda em chegar”.

O pagamento desses subsídios semestrais está, aliás, “atrasado”, de acordo com a Federação dos Sindicatos do Sector da Pesca, que ainda a semana passada repudiou “a recusa do Governo em adotar medidas eficazes que controlem os preços dos combustíveis, travando a atual onda especulativa”.

Fonte: Lusa/Fim






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