segunda-feira, 26 de março de 2007

Estação da CP passou à história



A estação ferroviária foi varrida do mapa da cidade Espinho, ao cabo de 133 anos de existência

A o fim de 133 anos a estação de caminhos-de-ferro de Espinho foi reduzida a escombros em nome de uma obra que, se tudo correr conforme o previsto, irá também esconder a passagem dos comboios do centro da cidade, modificando para sempre a imagem de uma terra que nasceu e se desenvolveu voltada para a linha férrea.


Talvez por isso mesmo, sejam tantas as memórias ligadas à estação, aos comboios e até à antiga passagem pedonal superior, a velha passarela de madeira há muito demolida. Memórias que, apesar da imagem de Espinho estar definitivamente a mudar, dificilmente serão esquecidas, tanto por novos, como por velhos. Muitos não hesitam em considerar que a estação poderia ter sido poupada e transformada, quem sabe, num espaço museológico, ligado à cultura ou ao turismo.

"Parecia que era a minha própria história que estavam a querer fazer desaparecer quando deitaram abaixo a estação. Foi feito tudo tão depressa, como se fizessem questão de não acordar uma só pessoa. Aquilo foi vruum, vruum, e de repente, em menos de duas horas, já não havia estação", contou José Fonseca, de 52 anos, empregado de comércio.

"Vivi sempre em Espinho e fui, na infância, quase um menino de rua. Sempre que podia, escapava de casa para andar na brincadeira e um dos meus passatempos preferidos, teria eu uns seis anitos, era colocar-me na passarela a ver os comboios a vapor a passar por baixo. Adorava sentir o cheiro do fumo",conta.

Com 30 anos, João Miguel Sousa, empregado de um vídeo-clube, por sua vez, nunca mais esqueceu o dia em que o papa João Paulo II passou de comboio por Espinho. "Eu era pequeno, teria uns cinco ou seis anos, e estava lá no meio da multidão de gente que foi tentar ver o papa. O comboio abrandou e nós vimo-lo a acenar. Teve que ver… Toda a gente a dizer-lhe adeus. Foi muito bonito. Nunca mais esqueci essa imagem", recordou.

Lurdes Guimarães, de 83 anos, também não esquece as muitas horas românticas que passou na estação com o marido, então ainda namorado, enquanto esperava o comboio para a Granja, onde ainda vive. Mas, nem todos os momentos foram felizes. Lurdes Guimarães recorda um certo domingo de festa da Nossa Senhora da Ajuda quando, depois de ter andado a passear com as amigas, se desencontrou do pai que a esperava na estação. Passava da meia-noite e aquele que pensavam que seria o último comboio já havia partido.

O pai, furioso, quando a viu chegar, deu-lhe uma bofetada à frente de toda a gente com tal força que a fez cair em cima de uma poça de água. "Fui a chorar até casa e durante muito tempo não lhe perdoei apesar dele me pedir desculpa todos os dias. O mais engraçado da história é que, por causa disso, no dia a seguir à cena, um rapaz que gostava muito de mim na altura veio ter comigo e disse-me que, se eu quisesse, me raptava nessa mesma noite. Eu, claro, não aceitei", contou Lurdes Guimarães, entre risos

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