sexta-feira, 26 de março de 2021

Era uma vez praia de Espinho

 








O estar na praia: uma prática social que nasceu em Inglaterra




De um modo geral a época anterior ao século XVIII desconheceu quase por completo o prazer da vilegiatura marítima, da praia e do mar, bem como as emoções estéticas, físicas e mentais daí decorrentes. 


Aos poucos começou a atribuir-se cada vez mais atenção aos cuidados com a higiene corporal, em especial ao banho, que passou a ser visto como fator de saúde e higiene individual e coletiva. 

A medicina intensificou a prescrição de tratamentos curativos ou profiláticos de doenças do corpo e do espírito à base da água do mar, quer por imersão quer por ablução. 

Assim, a água deixou de ser vista com carácter de suspeição, como o fora durante quase toda a Idade Moderna e passou a ser encarada como um agente revigorante e protetor da pele e dos outros órgãos.

Como refere o Professor Rui Cascão nas suas "Notas para a História do Turismo Balnear”, assim se compreende a importância progressivamente conferida à talassoterapia.

Com o decorrer do século XIX os habitantes da Europa Ocidental começaram a procurar a praia como local de veraneio.

 O gosto pelo mar foi ganhando raízes, e entre finais do século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, período que corresponde aproximadamente ao Pré-Romantismo e ao Romantismo, a ida a banhos passou a ser sinónimo de uma prática civilizada entre as elites. 

A Grã-Bretanha foi o primeiro país a adotar esta prática. 

A aristocracia inglesa, que já tinha incutido entre os seus pares a vilegiatura termal, criou uma nova forma de lazer, a vilegiatura marítima, já perfeitamente implantada em finais do século XVIII, e na qual a praia de Brigthon funcionou como centro difusor deste costume.

Na última década do século XVIII desenvolveram-se centros estivais no litoral da Alemanha, com destaque para 

Doberan, Travemünde,

 Colberg e Kiel (no Mar Báltico), e 

Nordeney, Wyk e Helgoland (no Mar do Norte). 


Em França, o veraneio marítimo começou a dar os primeiros passos durante o período da Restauração (1815-1830), destacando-se as estâncias de Biarritz (que mais tarde seria o local privilegiado de veraneio para a aristocracia francesa, inglesa e castelhana), Dieppe, Boulogne, Royan e Granville. 



Nas costas do Mar Mediterrâneo, a difusão da vilegiatura marítima foi ainda mais tardia. 

Entre 1830 e 1848, o principal local de veraneio era Sète. 

As estâncias de Nice e Cannes só se fazem notar na segunda metade de Oitocentos, assim como as praias de Montecarlo (Mónaco), 

Baden Baden (Alemanha), 

San Marino (Riviera Italiana), 

Estoril, 

Cascais, 

Granja, 

Espinho, 

Figueira da Foz e 

Póvoa de Varzim (Portugal), 

Rio de Janeiro (Brasil) e 

Mar del Plata (Agentina),

estâncias balneares que se tornaram famosas pela forte componente lúdica que foram desenvolvendo. 



A título de exemplo, a cerimónia de inauguração da praia de Dieppe, em 1824, pela duquesa de Berry, ao meio-dia preciso, e entrando no mar conduzida pelo inspector médico real das águas, foi um acontecimento de grande simbolismo, que elevou a estadia à beira-mar à categoria de prática social civilizada.

FONTE :  Museu Municipal de Espinho








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